Crise de imigração na Europa

'Espetáculo de cadáveres em praias europeias' era previsto, diz brasileiro na ONU

Paulo Sérgio Pinheiro diz que o "espetáculo de cadáveres nas praias da Europa" era um fenômeno previsível, devido à gravidade da crise humanitária na Síria.

O brasileiro lidera a comissão da Organização das Nações Unidas que investiga crimes de guerra na Síria. Segundo ele, a situação no país é "caótica e catastrófica" e que a diplomacia "fracassou" ao não conseguir negociar um fim à guerra civil, que já dura quatro anos.


O conflito já deixou 240 mil mortos, 7,4 milhões de deslocados internos e cerca de 4 milhões de refugiados - a maioria abrigada nos vizinhos Líbano, Turquia e Jordânia. Cerca de 250 mil pediram refúgio a países europeus.

A questão voltou à tona nesta semana, com milhares de refugiados e imigrantes buscando asilo na Europa. A imagem do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, morto numa praia na Turquia após o barco em que estava com a família ter naufragado ao tentar chegar à Grécia, chocou o mundo.

"Não existe novidade de refugiados", disse ele, em entrevista à BBC Brasil, no dia seguinte à apresentação de relatório da comissão sobre a situação na Síria, em que disse ser "imperativo" uma ação da comunidade internacional.

Segundo ele, 2 mil sírios morreram afogados no Mar Mediterrâneo tentando chegar à Europa. Ele alertou, ainda, para o crescimento de "grupos mafiosos" que traficam pessoas.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista, concedida por telefone, desde Genebra:

BBC Brasil - O que explica essa nova onda de refugiados que tentam chegar à Europa?

Paulo Sérgio Pinheiro - Primeiro, é o agravamento da situação nos países que generosamente acolheram os refugiados sírios. Basicamente, a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Você tem 1,2 milhão de refugiados sírios no Líbano, um país que tem 4 milhões de habitantes. Hoje tem mais crianças sírias na escola primária do que crianças libanesas.

Então, é evidente que a capacidade de esses países acolherem os refugiados sírios está chegando ao limite.

E, evidentemente, diante desse limite, diante do agravamento (da situação na Síria), os sírios tomaram essa decisão angustiante, desesperada, de (solicitar) ajuda de grupos de traficantes mafiosos para chegarem à Europa.

BBC Brasil - Essa não é uma crise nova, mas foi preciso haver imagens fortes, como a do menino sírio morto na praia, para que se discutisse alguma ação.

Pinheiro - Esse é o problema da Europa, porque na verdade essas cenas brutais dos refugiados tentando escapar da guerra já ocorrem desde 2012.

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